Comentário de Alexandre Sousa Pinheiro à notícia do jornal "El Confidencial"
É assim que se começa.
As pessoas que se consideram imunes - e não passa disso - a uma doença colocam essa informação no CV.
Nada é perguntado, mas é uma informação que o próprio considera relevante para ser recrutado.
A partir daí, os que não informem sobre a sua condição de imunidade ficam numa situação de subalternidade.
Por isso, as perguntas podem estender-se: como fazer com a informação de que uma mulher não está grávida voluntariamente transmitida?
Cria-se uma subcultura da informação pessoal a prestar, com as inerentes vantagens.
À face da legislação de proteção de dados o conhecimento desta informação deve ser considerado violador do princípio da minimização dos dados previsto no artigo 5.º, n.º 1, alínea c) do RGPD e, consequentemente, não considerado para fins de recrutamento.
Comportamentos como este vão proliferar dentro desta chamada "nova normalidade" - que agride direitos fundamentais de uma forma universal - exprimindo-se como uma ditadura suave e amparada em muitas explicações.
Diz-se que é uma fase transitória. As toneladas de medo e terror carregadas diariamente através de meios de comunicação social e das redes sociais - de uma forma direta ou de modo subliminar - levam-me a pensar o contrário.
O mundo democrático está maduro para receber subtis constrangimentos ditatoriais da liberdade.
Depois chegam as ditaduras.